TUDO E NADA

Livrar-se da força da gravidade
Por uma fração de segundo
Para todo o sempre
Levando-o consigo,
Através deste pequeno lapso.
Sensação envolvente
Impedida pelo incoerente
Medo do término,
Que, a todos, iguala
Transformando tudo em nada
Que diferença teria
80 anos ou 80 segundos vividos
No exato momento
De se ter morrido?
Temer nunca mais temer
Viver uma vida inteira
Sem realmente ter vivido
À busca de tudo
No profundo vazio.
Um homem só o é de verdade
Quando sabe que tudo será nada um dia
E que este dia será como qualquer outro
O de rir, chorar, apaixonar-se...
O de percorrer o percurso da vida
Viver até... Morrer.
Uma vida com medo da morte
Correr cego e vacilante
Temendo um impacto
Diluir o misterioso sabor do fim
No conturbado sabor da vida
A cada segundo, dando uma parada
Num morrer sucessivo e gradual
Na intermitente expectativa de um obstáculo
Acabando com o contraste
Do final com a jornada